Nm. 6, 22-27
Gl 4, 4-7
Lc 2, 16-21
Caros irmãos e caras irmãs,
somos um povo em caminho e, como o Israel bíblico, procuramos e pedimos a bênção. Esta súplica é atestada nos salmos, mas aqui, no livro dos Números, é o próprio Deus que ensina as palavras para que recebamos a bênção nele. Assim, ele transmite a Moisés, para que este transmita a Aarão e de Aarão a todos os israelitas, as palavras da sua esperança. Nós fazemo-las nossas, pensando em todos os nossos irmãos, em todas as nossas irmãs espalhadas pela terra. Fazemo-las nossas, levando no coração a angústia e o medo dos povos preocupados com o choque entre as nações e a exposição à violência. Fazemo-las nossas pensando naqueles que não têm outra proteção senão a oração, forçados ao frio da solidão e da miséria. Tornamo-las nossas quando pensamos na Igreja e em toda a comunidade que Deus suscitou para que o seu nome e o seu amor fossem conhecidos através dela.
Estas são as palavras que Deus deu a Moisés: “Que o Senhor te abençoe e te guarde. Que o Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti e tenha piedade de ti. Que o Senhor volte o seu rosto para ti e te conceda a paz. Bênção, guarda, luz, graça paz, nas muitas provas da história deste povo e daqueles que Deus gerou para que, livres do mal, lhe pertençam. E quanta verdade, nas palavras do salmista quando reconhece (Salmo 44,4): Porque não foi com a espada que conquistaram a terra, nem foi o seu braço que os salvou, mas a tua mão direita, o teu braço e a luz do teu rosto, porque os amaste... Tu os amavas.
E este amor atravessa toda a Escritura e - acreditamos nisto - está escrito também no ano que acaba de passar, no meio das tempestades da história atual. É a razão do nosso Te Deum. Deus amou-nos e ama-nos. Deus não se retirou. Encontrou o seu caminho no coração de muitos dos nossos irmãos e irmãs, cujo testemunho é luminoso e resplandecente. Com eles, neste tempo de Natal, somos todos atraídos para o Senhor. Convidados a dirigir o nosso olhar para ele, como os pastores na noite, sem demora. Dirigir o olhar com a Bíblia nas mãos, dirigir o olhar invocando a sua proteção. Voltar o olhar do eu para a família do Senhor.
Em Maria, com José, encontramos o Menino, o admirável conselheiro, o príncipe da paz. Um sinal universal de paz, na noite. Uma oferta sem igual, que faz os pastores cantarem o seu louvor e a glória deste dom. Um canto semelhante ao dos anjos, porque aqueles que são regenerados pelo Natal encontram novas palavras e pensamentos para dizer a todos que é possível que Deus habite a terra e a humanidade.
Ao lado do menino, está Maria, muito humilde e jovem, mas que guarda todas estas coisas no seu coração. Ela abre espaço dentro de si para todo o mistério do amor de Deus. E nós também... Deus enviou o seu Filho para que as nossas dívidas fossem perdoadas e para que aprendêssemos a perdoar as dívidas dos outros. Para que no Natal possamos antecipar a vitória sobre o mal. Paulo diz que somos filhos adoptivos, já não órfãos, menos ainda escravos. Num mundo dividido, somos feitos irmãos. Podemos gritar “Abba Pai”, movidos pelo mesmo Espírito, que nos vê reunidos e que nos guiou até hoje.
Será amanhã? Se somos filhos, somos herdeiros pela graça de Deus. Esta herança está viva. Rezemos para que dê frutos nas novas gerações, para que dê frutos para desarmar a guerra e a violência. Porque a paz não é como a dá o mundo, que elimina o inimigo e chama paz ao deserto, mas é o próprio Cristo, sinal do amor total (Jo 14,27). Que esta herança viva dê frutos em cada um de nós, tornando-nos crentes, mais crentes e amigos de Deus. Que ela dê frutos para que os povos se aproximem, depois de tanto sangue derramado e tanta loucura. Sim, que o Senhor nos abençoe e nos guarde. Que o Senhor faça brilhar o seu rosto para vós, para todos nós, e nos dê a graça. Que o Senhor volte o seu rosto para nós e nos dê a paz. Amém