A guerra nunca tem vencedores

Um artigo de Nelson Moda sobre a locura da guerra na Ucrânia no Dário de Moçambique

 

A guerra nunca tem vencedores

 

A atrocidade bélica que a Rússia promove contra a Ucrânia parece cenas dos filmes. O mundo inteiro, políticos, diplomatas, líderes religiosos asseveram sobre a inutilidade desta guerra. Aliás, a guerra foi sempre inútil.

As investidas da Rússia buscam não apenas fragilizar e abocanhar-se da Ucrânia, como também as suas consequências irão, sem dúvidas, ressentir-se além fronteiras. É desde 1945, com o fim da segunda guerra mundial que já não se cortejava arsenal bélico daquela dimensão na Europa. Do nada, e na busca de satisfação de interesse de poucos, assume-se a relevância de hipotecar a felicidade dum povo. A guerra é uma loucura.

Sabe-se do início do primeiro bombardeamento, naquela madrugada, mas ninguém pode precisar o fim. Dizia São João Paulo II que, de facto, a guerra é uma aventura sem regresso.

Duma Europa exemplar como continente de paz risca-se a reduzi-lo num campo de batalha infinita. A África, a América e a Ásia inteira apelidam-lhe de velho continente. Velho no sentido de ser o pioneiro, e cá em África, principalmente em Moçambique, minha terra, os mais velhos são considerados bibliotecas vivas da sociedade, são o farol que guia os mais novos, são exemplos que inspiram os outros, são modelos. É assim como também consideramos a Europa na maioria das epopeias sociais, políticas e sobretudo da civilização.

A guerra na Ucrânia revela como a diplomacia não é sempre um veículo que garante o entendimento e a paz das nações. A paz continuará sempre a ser um canteiro aberto a todos e não apenas aos especialistas e estrategas. Com o fim da segunda guerra mundial e posterior queda do muro de Berlim, o mundo, mas sobretudo o ocidente, foi-se convencendo na eclosão duma nova aurora onde o desenvolvimento e a paz seriam ditames sociais perpétuos. Assumimos hipoteticamente que a democracia e soberania de cada povo constituiriam a bandeira inviolável. Nunca chegamos a subestimar que a ganância humana, o ódio e o desejo a supremacia pudessem desacreditar a civilização política dos tempos vindouros.

Como é triste ver aquelas imagens na Ucrânia! Como é difícil acreditar que aquelas imagens são reais num mundo cuja civilização foi-se dando como modelo para outros povos. Pode-se fazer alguma coisa para inverter o actual cenário? Quais são as vias para se encontrar a paz? Encontraremos a paz na Ucrânia exibindo potencial bélico da NATO contra a Rússia? A experiência global rejeita violência como instrumento para acabar com a violência. Não se pode chegar a paz utilizando a guerra. A guerra e a violência são instrumentos falhados para alcançar a paz.

A guerra não é algo com que se pode brincar e experimentar. A aventura do primeiro passo da guerra é feito de palavras e, uma vez que elas têm poder influenciador e incitador, conduzem a uma guerra física cujo regresso é incerto.

Conheço o horror da guerra. Ela destrói em segundos o que foi construído há séculos. A África é, nalguns quadrantes do mundo, apelidado como o continente das guerras e o meu país viveu por 10 anos uma guerra de libertação do colonialismo português. Após a independência mergulhamo-nos numa guerra civil que durou 16 anos e hoje sentimos todos as dores do terrorismo, com palco na região norte de Moçambique. A guerra nunca deve ser a nossa conselheira de desenvolvimento e nem menos da paz. Ela é diabólica. Optar pela guerra para resolver os conflitos revela pequenez de pensamento. Verdadeiras potências hoje, deveriam ser armadas de tecnologias de desenvolvimento e não de destruição, rodeados de pensadores modernos e não de estrategas militares, equipados de cientistas sanitários e não de mercenários sanguinários.

Almejo que se chegue ao entendimento recíproco e não a rendição de parte. Que a Ucrânia volte a viver serenamente com o seu merecido potencial cultural e religioso. A Rússia deve investir naquilo que os seus filhos, netos e todas gerações vindouras irão se orgulhar. Não se pode viciar em guerras e tornar-se escravos dela. Os tempos são outros. Com a guerra perdem todos, incluindo os que não fazem a guerra. Perdemos todos. A guerra nunca tem vencedores. Jamais a guerra, viva a paz!