XXX do tempo comum
Recordação do histórico encontro de Assis (1986), quando João Paulo II convidou os representantes de todas as confissões cristãs e das grandes religiões mundiais para rezarem pela paz. Memória de Dominique Green, jovem afro-americano justiçado em 2004. Oração pelos condenados à morte e pela abolição da pena capital.
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XXX do tempo comum
Recordação do histórico encontro de Assis (1986), quando João Paulo II convidou os representantes de todas as confissões cristãs e das grandes religiões mundiais para rezarem pela paz. Memória de Dominique Green, jovem afro-americano justiçado em 2004. Oração pelos condenados à morte e pela abolição da pena capital.
Primeira Leitura
Jeremias 31,7-9
Porque isto diz o Senhor:
«Soltai gritos de júbilo por Jacob.
Aclamai a primeira das nações!
Fazei ressoar louvores, exclamando:
'Ó Senhor salva o teu povo,
o resto de Israel'.
Salmo responsorial
Salmo 125 (126)
Cântico das peregrinações.
Quando o Senhor mudou o destino de Sião,
parecia-nos viver um sonho.
A nossa boca encheu-se de sorrisos
e a nossa língua de canções.
Dizia-se, então, entre os pagãos:
?O Senhor fez por eles grandes coisas!?
Sim, o Senhor fez por nós grandes coisas;
por isso, exultamos de alegria.
Transformai, Senhor, o nosso destino,
como as chuvas transformam o deserto do Négueb.
Aqueles que semeiam com lágrimas,
vão recolher com alegria.
À ida vão a chorar,
carregando e lançando as sementes;
no regresso cantam de alegria,
transportando os feixes de espigas.
Segunda Leitura
Hebreus 5,1-6
Todo o Sumo Sacerdote tomado de entre os homens é constituído em favor dos homens, nas coisas respeitantes a Deus, para oferecer dons e sacrifícios pelos pecados. Pode compadecer-se dos ignorantes e dos que erram, pois também ele está cercado de fraqueza; por isso, deve oferecer sacrifícios, tanto pelos seus pecados, como pelos do povo. E ninguém tome esta honra para si mesmo, mas somente quem é chamado por Deus, tal como Aarão. Assim também Cristo não se atribuiu a glória de se tornar Sumo Sacerdote, mas concedeu-lha aquele que lhe disse: Tu és meu Filho, Eu hoje te gerei. E, como diz noutro passo: Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedec.
Leitura do Evangelho
Aleluia aleluia, aleluia
Ontem fui sepultado com Cristo,
hoje ressuscito convosco que ressuscitastes;
convosco fui crucificado,
recordai-vos de mim, Senhor, no vosso Reino.
Aleluia aleluia, aleluia
São Marcos 10,46-52
Chegaram a Jericó. Quando ia a sair de Jericó com os seus discípulos e uma grande multidão, um mendigo cego, Bartimeu, o filho de Timeu, estava sentado à beira do caminho. E ouvindo dizer que se tratava de Jesus de Nazaré, começou a gritar e a dizer: «Jesus, filho de David, tem misericórdia de mim!» Muitos repreendiam-no para o fazer calar, mas ele gritava cada vez mais: «Filho de David, tem misericórdia de mim!» Jesus parou e disse: «Chamai-o.» Chamaram o cego, dizendo-lhe: «Coragem, levanta-te que Ele chama-te.» E ele, atirando fora a capa, deu um salto e veio ter com Jesus. Jesus perguntou-lhe: «Que queres que te faça?» «Mestre, que eu veja!» - respondeu o cego. Jesus disse-lhe: «Vai, a tua fé te salvou!» E logo ele recuperou a vista e seguiu Jesus pelo caminho.
Aleluia aleluia, aleluia
Ontem fui sepultado com Cristo,
hoje ressuscito convosco que ressuscitastes;
convosco fui crucificado,
recordai-vos de mim, Senhor, no vosso Reino.
Aleluia aleluia, aleluia
Homilia
A oração feita com fé abre sempre o coração a um modo diferente de viver. Bartimeu que mendigava à porta de Jericó, tinha-se apercebido disso. Como todos os cegos, também ele está revestido de fraqueza. No Evangelho, eles são a imagem da pobreza e da dependência total do próximo. Bartimeu, tal como Lázaro e como tantos outros pobres próximos ou distantes de nós, jaz às portas da vida, à espera de algum conforto. E mesmo assim, este cego torna-se num exemplo para todos nós, exemplo de crente que pede e que reza. À sua volta, tudo é escuro. Não vê quem passa, não reconhece quem está perto dele, não distingue nem os rostos nem as atitudes. Naquele dia, porém, aconteceu algo de diferente. Ouviu o ruído da multidão que se aproximava e, no escuro da sua vida e das suas percepções, intuiu uma presença. Tinha "ouvido dizer que era Jesus", anota o evangelista. À notícia daquela passagem começa a gritar: "Jesus, Filho de David, tem piedade de mim!". É a oração dos pobres que todos nós devemos aprender a fazer nossa. E gritar, é o único modo que tem para ultrapassar a escuridão e a distância que, aliás, não consegue medir. Assim como em Israel do passado, o grito do povo em oração fez derrocar as portas da cidade de Jericó (cfr Js 6, 16-27), assim Bartimeu transpôs os muros de indiferença daquela cidade. Aquele grito, porém, não agradou à multidão, tanto é que todos procuravam fazê-lo calar. Era um grito inconveniente, corria o risco de perturbar também aquele feliz encontro entre Jesus e a multidão da cidade. Com toda a sua presumida razoabilidade aquela lógica era cruel.
Mas a presença de Jesus fez àquele homem ultrapassar qualquer temor. Bartimeu sentiu que a sua vida podia mudar totalmente com aquele encontro e com voz ainda mais forte gritou: "Jesus, Filho de David, tem piedade de mim!". É a oração dos pequenos, dos pobres que dia e noite, sem descanso porque contínua é a sua necessidade, se dirigem ao Senhor. Bartimeu, logo que ouviu que Jesus o queria ver, desfez-se do manto e correu em direcção d'Ele. A escuta da Palavra de Deus não conduz ao nada, não leva a um ponto de chegada psicológico mirado a tranquilizar mais do que a transformar. A escuta conduz ao encontro pessoal com o Senhor e à consequente transformação da vida. É Jesus que começa a falar mostrando um interesse por ele e pela sua condição. E pergunta-lhe: "Que queres que te faça?". Bartimeu, com a mesma simplicidade com que tinha rezado, diz-Lhe: "Mestre, eu quero ver de novo!". Bartimeu reconheceu a luz mesmo sem a ver. Por isso, readquiriu logo a vista. "Podes ir, foi a tua fé que te curou!", disse-lhe Jesus.