O Papa Francisco estabelece o Domingo da Palavra de Deus. Andrea Riccardi: Sagrada Escritura, força do povo de Deus

Estabeleço que o III Domingo do Tempo Comum seja dedicado à celebração, reflexão e divulgação da Palavra de Deus. ... porque a Sagrada Escritura indica, a quantos se colocam à sua escuta, o caminho a seguir para se chegar a uma unidade autêntica e sólida.

 

Leia todo o documento APERUIT ILLIS:
w2.vatican.va/content/francesco/pt/motu_proprio/documents/papa-francesco-motu-proprio-20190930_aperuit-illis.html

Andrea Riccardi, no jornal Avvenire, apresenta e acompanha o entendimento desta passagem na vida da Igreja: Sagrada Escritura força do povo de Deus

https://www.santegidio.org/immagini/rassegna/testate/avvenire.jpg

 A recepção do Concílio Vaticano II, apesar dos mais de cinquenta anos que se passaram desde a sua conclusão, ainda não acabou de dar frutos na Igreja, como pode ser visto na Carta Apostólica do Papa Francisco, Aperuit illis, com a qual se estabelece o Domingo da Palavra de Deus.

 Não se trata de uma decisão de escasso valor um ato que dedica um Domingo inteiro para fazer festa em volta da Palavra de Deus, mas é algo análogo ao Corpus Domini, uma solenidade tão enraizada no sentimento do povo cristão, estabelecido em 1264 por Urbano IV para aumentar a devoção à Eucaristia.

 Preferiu-se um infantilismo espiritual ou um aprendizado mnemônico e doutrinário, em vez de viver o contacto com as Escrituras. Além disso, o Concílio recorda São Jerônimo que afirmava: «a ignorância das Escrituras é ignorância de Cristo». O texto do Aperuit illis é belo e profundo, cheio de ideias. A aceitação desta mensagem pelas comunidades passa de uma consciência fundamental a ser compartilhada: «A Bíblia não pode ser património só de alguns ... Pertence, antes de mais nada, ao povo convocado para a escutar e se reconhecer nesta Palavra». Não pertence a «alguns círculos ou grupos privilegiados», porque «a Bíblia é o livro do povo de Deus».

Isso significa inaugurar ou fazer amadurecer o que eu chamaria de uma «devoção» do povo pela página sagrada da Bíblia, lendo-a, vivendo-a, venerando-a, colocando-a no centro da vida e da comunidade. É um processo longo - no entanto, não somos apenas no começo - que merece compromisso e criatividade, sabendo que «quem se alimenta dia a dia da Palavra de Deus torna-se, como Jesus, contemporâneo das pessoas que encontra...». Na complexidade do mundo contemporâneo, na interseção e no confronto das identidades, não nos podemos escondermos atrás dos muros nem, por outro lado, nos diluirmos num conformismo que Fromm definiu como a «religião do nosso tempo». Para enfrentar a complexidade contemporânea, homens e mulheres crentes são chamados a unificar os seus corações na escuta da Palavra e a se abrirem à multiplicidade dos encontros e dos caminhos.
É a lição de João Crisóstomo, mestre da escuta da Palavra de Deus: «Sede simples com inteligência».