IV do tempo comum
Memória da morte de Ghandhi, morto em 1948 em Nova Deli. Com ele recordamos todos os que, em nome da não-violência, são operadores de paz.
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IV do tempo comum
Memória da morte de Ghandhi, morto em 1948 em Nova Deli. Com ele recordamos todos os que, em nome da não-violência, são operadores de paz.
Primeira Leitura
Jeremias 1,4-5.17-19
A palavra do Senhor foi-me dirigida nestes termos: «Antes de te haver formado no ventre materno,
Eu já te conhecia;
antes que saísses do seio de tua mãe,
Eu te consagrei e te constituí
profeta das nações.»
Salmo responsorial
Salmo 70 (71)
Em ti, Senhor, me refugio,
jamais serei confundido.
Pela tua justiça, livra-me e protege-me;
inclina para mim os teus ouvidos e salva-me.
Sê a minha protecção e o refúgio onde me acolho.
Tu prometeste salvar-me,
pois és o meu rochedo e a minha fortaleza.
Meu Deus, livra-me das mãos do ímpio,
das mãos do opressor e do violento.
Tu és a minha esperança, ó Senhor Deus,
e a minha confiança desde a juventude.
Em ti me apoio desde o seio materno,
desde o ventre materno és o meu protector;
és o objecto contínuo do meu louvor.
Sou motivo de admiração para muitos,
mas Tu és o meu refúgio.
A minha boca está cheia do teu louvor;
todo o dia proclamo a tua glória.
Não me rejeites no tempo da velhice,
não me abandones, quando já não tiver forças.
Os meus inimigos falam contra mim,
e os que espiam os meus passos conspiram.
E dizem: «Deus abandonou-o; persigam-no,
prendam-no, pois não há quem o salve!»
Ó Deus, não te afastes de mim!
Meu Deus, vem depressa socorrer-me!
Sejam confundidos e destruídos
os que atentam contra a minha vida;
cubram-se de opróbrio e vergonha
os que procuram a minha desgraça.
Eu, porém, esperarei continuamente
e, dia após dia, mais te louvarei.
A minha boca proclamará a tua justiça,
e todo o dia anunciarei a tua salvação,
sabendo bem que ela é inenarrável.
Narrarei esses prodígios, Senhor, Deus,
recordarei a tua justiça sem igual.
Instruíste-me, ó Deus, desde a minha juventude
e até hoje anunciei sempre as tuas maravilhas.
Agora, na velhice e de cabelos brancos,
não me abandones, ó Deus,
para que anuncie a esta geração o teu poder
e às gerações futuras, a tua força.
Ó Deus, a tua generosidade chega até aos céus,
pois fizeste grandes coisas:
quem como Tu, ó Deus?
Fizeste-me sofrer grandes males e aflições mortais;
mas de novo me darás a vida;
das profundezas da terra me levantarás outra vez.
Aumentarás a minha dignidade,
aproximando-te para me confortar.
Por isso, quero louvar-te ao som da harpa,
louvar a tua fidelidade, ó meu Deus;
quero cantar-te ao som da cítara, ó Santo de Israel.
Ao cantar-te salmos, os meus lábios vibrarão de alegria,
e também todo o meu ser, que Tu salvaste.
A minha língua cantará, dia a dia, a tua justiça,
pois ficaram confundidos e cheios de vergonha
os que procuravam a minha desgraça.
Segunda Leitura
I Coríntios 12,31-13,13
Aspirai, porém, aos melhores dons.
Aliás, vou mostrar-vos um caminho que ultrapassa todos os outros.
Leitura do Evangelho
Aleluia aleluia, aleluia
Ontem fui sepultado com Cristo,
hoje ressuscito convosco que ressuscitastes;
convosco fui crucificado,
recordai-vos de mim, Senhor, no vosso Reino.
Aleluia aleluia, aleluia
São Lucas 4,21-30
Começou, então, a dizer-lhes: «Cumpriu-se hoje esta passagem da Escritura, que acabais de ouvir.»
Todos davam testemunho em seu favor e se admiravam com as palavras repletas de graça que saíam da sua boca. Diziam: «Não é este o filho de José?» Disse-lhes, então: «Certamente, ides citar-me o provérbio: ‘Médico, cura-te a ti mesmo.' Tudo o que ouvimos dizer que fizeste em Cafarnaúm, fá-lo também aqui na tua terra.» Acrescentou, depois: «Em verdade vos digo: Nenhum profeta é bem recebido na sua pátria. Posso assegurar-vos, também, que havia muitas viúvas em Israel no tempo de Elias, quando o céu se fechou durante três anos e seis meses e houve uma grande fome em toda a terra; contudo, Elias não foi enviado a nenhuma delas, mas sim a uma viúva que vivia em Sarepta de Sídon. Havia muitos leprosos em Israel, no tempo do profeta Eliseu, mas nenhum deles foi purificado senão o sírio Naaman.» Ao ouvirem estas palavras, todos, na sinagoga, se encheram de furor. E, erguendo-se, lançaram-no fora da cidade e levaram-no ao cimo do monte sobre o qual a cidade estava edificada, a fim de o precipitarem dali abaixo. Mas, passando pelo meio deles, Jesus seguiu o seu caminho.
Aleluia aleluia, aleluia
Ontem fui sepultado com Cristo,
hoje ressuscito convosco que ressuscitastes;
convosco fui crucificado,
recordai-vos de mim, Senhor, no vosso Reino.
Aleluia aleluia, aleluia
Homilia
O Evangelho deste domingo continua a narração da primeira pregação de Jesus em Nazaré, referindo as reacções irritadas dos Seus concidadãos. De onde provinha uma indignação tão violenta, ao ponto de levar aquelas pessoas a quererem lançar Jesus do precipício? A culpa de Jesus era apenas uma: ter ousado falar com autoridade, e ter anunciado o cumprimento das Escrituras. Apresentava-se, assim, como o Messias, aquele que libertava os prisioneiros, curava os doentes e aliviava os pobres da sua situação. Eles não querem aceitar que o enviado de Deus seja um deles. Precisam de sinais e de prodígios e não escutam. Mas é precisamente este não escutar que esmorece a profecia. Não é por acaso que Jesus recorda dois episódios da Bíblia: o episódio do profeta Elias que foi mandado só a uma pobre viúva, perto de Sidónia, e o episódio do profeta Eliseu mandado para curar da lepra Naamã o sírio, um estrangeiro. Tanto ele como a viúva acolheram os profetas e foram ajudados. Neles, prevaleceu a necessidade de ajuda e de cura e entregaram-se às palavras do profeta; exactamente o contrário do que fizeram os habitantes de Nazaré.
A incredulidade bloqueia o amor de Deus, reduz à impotência as Suas palavras tornando-as totalmente ineficazes. De um certo modo, mata-as, descarta-as. Assim, os nazarenos expulsam Jesus da cidade e tentam matá-l'O para que não regresse de novo reivindicando uma autoridade sobre a vida deles. É o que acontece sempre que não acolhemos o Evangelho com o coração sincero e disponível. Descarta-mo-l'O e expulsa-mo-l'O da nossa vida, da vida dos homens. E continuamos aquela "via crucis" que, em Nazaré teve a sua primeira etapa e em Jerusalém o seu ápice. Defendemo-nos do Evangelho e dos seus testemunhos para não sermos incomodados na nossa tranquilidade, precisamente, como os habitantes de Nazaré. Preferimos o silêncio, para que não sejam reveladas, nem sequer a nós mesmos, as nossas fragilidades, os nossos pecados. A incredulidade é como uma conjura do silêncio: não tolera que o Evangelho fale e transforme o nosso coração. E não é a conjura de quem nunca conheceu ou ouviu o Senhor. Pelo contrário, a incredulidade provém daqueles que O conhecem. É o pecado dos crentes. É como um medo de um Deus vivo, próximo, humano. Um Deus assim assusta-nos porque está sempre ao nosso lado. Gostaríamos de um Evangelho mais afastado, de modo que não nos diga nada ou esvaziado da Sua força, que negociou com a mentalidade deste mundo, ao ponto de não nos pedir nada. No entanto, o Evangelho resume-se a uma só palavra: o amor de Deus.